Alguns movimentos partidários das últimas semanas têm mostrado que a eleição de 2022 ainda não tem todos os candidatos definidos. Por enquanto, a única chapa fechada para a disputa eleitoral parece ser da aliança PT e PSB, que definiu nos últimos dias a composição de Lula/Alckmin para a disputa presidencial, e com esse movimento outros aconteceram.
Bolsonaro anunciou nas entrelinhas que seu vice será militar, e que alianças políticas explícitas com membros do centrão na chapa presidencial não lhe agradam, mesmo tendo PL, PP e Republicanos apoiando explicitamente à sua reeleição. O nome do general Villas Bôas para vice é o preferido, o que indica que um possível segundo mandato de Bolsonaro tende a ser mais autoritário que o primeiro. Os partidos de apoio ao presidente estão trabalhando para fazer uma bancada forte na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, um teste para a popularidade de Bolsonaro nos Estados.
O PSD de Kassab parece ter tomado a decisão de participar da eleição presidencial de maneira ativa e se aproxima de forma acelerada a Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul pelo PSDB, que foi derrotado nas prévias presidenciais dos tucanos, mas que ainda não desistiu da ideia de ser um presidenciável. Juntamente com essa aproximação, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), presidente do Senado, desistiu de sua improvável candidatura ao Palácio do Planalto, colocando o PSD em uma condição de peça-chave na construção de uma possível terceira via. A candidatura de Leite agrada mais aos governadores filiados ao PSD que um apoio à chapa Lula/Alckmin no primeiro turno, mas não fecha as portas para um possível apoio no segundo turno. PSD é um dos partidos que mais cresceu em filiados e candidatos eleitos nos últimos anos e tem se destacado em âmbito nacional por posicionamentos de centro-direita.
O PDT de Ciro Gomes continua em sua ousada campanha presidencial, apostando em ferramentas novas de aproximação do eleitor jovem com o candidato, e adotando o slogan da “rebeldia” para chamar a atenção. O PDT tem uma tarefa complicada no âmbito de apoios partidários, pois suas críticas constantes à esquerda e o lançamento da candidatura de Lula enterram possíveis aliados históricos. A falta de consistência para procurar apoios de centro-direita tende a tornar a campanha do candidato do PDT complicada. Ainda existem muitas variantes que podem criar um panorama favorável, mas se a temperatura e pressão permanecerem como estão, essa será uma candidatura de um dígito.
Sérgio Moro e o Podemos continuam se deparando com a realidade, percebendo que todos querem Moro como apoio, mas não como candidato. Ao ex-juiz, falta carisma para uma campanha majoritária e articulação para negociar nos Estados. Um dos trunfos na articulação política de Moro é o senador Álvaro Dias (Podemos/PR), que só pensa em sua eterna campanha ao Senado e que foi emparedado por Ratinho Júnior (PSD/PR) e Ricardo Barros (PP/PR) na janela partidária. O Podemos não conseguiu deslanchar com a filiação dos "lavajatistas" e tende a se tornar um partido de um tema só, o que é muito pouco para um candidato presidencial.
O recém fundado União Brasil, que se tornou o maior partido político no Congresso Nacional, fez o anúncio em rede nacional de que terá candidato próprio ao Planalto, mas a indicação de nomes como Luciano Bivar (União/PE) e ACM Neto (União/BA) não motivam grandes movimentos. Alterações podem ocorrer com uma possível aliança com o MDB, que tem como candidata Simone Tebet (MDB/MS), mas será tarefa complicada emplacar qualquer um dos nomes, tendo em vista que construir um nome para uma campanha presidencial demanda tempo e apoios.
A campanha presidencial de 2022 promete ser quente, mas até o momento nada mudou no embate entre Lula e Bolsonaro, tanto é que são as duas chapas presidenciais que causam movimentos involuntários no ambiente político nacional. Se isso não mudar rápido, a terceira via se torna cada vez mais improvável.
*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).
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