Fazer listas de fim de ano é um hábito saudável e psicólogos explicam a importância dos ritos de passagem e do planejamento para estimular a inteligência e evitar o vazio existencial
A poucos dias do fim do ano, é hora de revisitar a lista de desejos e projetos do último Revéillon, comemorar o que deu certo e analisar o que ficou para trás. O ritual de fazer planos para o ano seguinte é um hábito de muitos brasileiros, que escolhem essa época para traçar novas metas.
Mudar de carreira, melhorar hábitos alimentares, começar uma atividade física, marcar o casamento, mudar de cidade, ter filhos, dedicar mais tempo à família. A lista é infinita, mas uma coisa é certa: fazer planos é terapêutico e estimula a inteligência. Quem garante é a psicóloga Daniela Jungles, mestre em Ciências da Educação pela Université de Sherbrooke (Canadá).
De acordo com a professora do curso de Psicologia do UniCuritiba – instituição que faz parte da Ânima Educação, uma das principais organizações de ensino superior do país, ter planos muda o humor, relaxa e até diverte. “Sejam grandes ou pequenos, os planos nos proporcionam segurança, motivação e esperança. É assim que enfrentamos as situações difíceis do dia a dia”, explica.
O próprio ritual da virada de ano é importante. O mestre em psicologia e professor do UniCuritiba, Guilherme Alcântara Ramos, diz que os ritos de passagem - como o Revéillon, por exemplo - são construções sociais e culturais essenciais do ponto de vista emocional e psicológico. “Os rituais existem para aumentar a nossa predisposição diante de uma nova fase ou demanda. São eles que nos ajudam a criar mecanismos para ‘virar a chave’ e recomeçar um ciclo.”
Buscar um sentido para a vida
A pandemia obrigou muita gente a anular ou postergar projetos e a rever metas. Casamentos, viagens, promoções no trabalho, início de um curso e tantos outros planos de vida foram cancelados ou adiados.
Essa incerteza é prejudicial às pessoas, avisa a professora Daniela Jungles. “Ter planos ou metas a atingir e agir de acordo com eles dá sentido aos nossos dias e diminui a sensação de perda de controle, além de gerar um efeito positivo de que a vida continua avançando, apesar de tantos desafios.”
A sugestão é manter as perspectivas mesmo diante das dificuldades e estabelecer planos simples que possam ser colocados em prática a curto prazo, sem esquecer dos planos de médio e longo prazos. “Precisamos vislumbrar o futuro. A falta de metas leva a uma preguiça cognitiva, a um vazio existencial e equivale a uma lesão neuropsicológica”, adverte a especialista.
O planejamento faz parte dos processos psíquicos superiores chamados funções executivas e requer a orquestração de várias atividades cognitivas complexas. A professora ensina que os planos otimizam a inteligência e são um recurso essencial para lidar com os desafios que a vida impõe no campo emocional.
“A saúde mental fica comprometida em um mundo que parece ter parado de girar. Fazer planos nos permite recuperar a motivação e, principalmente, nos faz olhar para o futuro com mais confiança. Ter metas ajuda a dar sentido à vida e tem um impacto positivo na saúde mental”, garante.
Planos desde a infância
As habilidades de planejamento e autorregulação cognitiva se desenvolvem durante os anos pré-escolares. Por volta dos 4 ou 5 anos de idade as crianças são capazes de desenvolver e executar planos simples que se relacionam com eventos familiares do dia a dia, como planejar uma refeição ou um passeio em família, por exemplo.
A psicóloga Daniela Jungles orienta as famílias a envolver as crianças, de forma lúdica, em seus projetos. Desta forma, o ritual de fazer planos e estabelecer metas vai se desenvolvendo. “A melhor forma de estimular e favorecer a cognição e a saúde emocional dos pequenos é por meio da brincadeira. Podemos até criar um plano com etapas e estratégias para transformar uma caixa de papelão em uma nave espacial, mas sem jamais esquecer que o objetivo principal é a diversão”, finaliza.
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