A Indústria hoje responde por apenas 12% do PIB e precisa recuperar o protagonismo para impulsionar o crescimento do país, avalia o empresário José Roberto Colnaghi
Que o país vem sofrendo um rápido
processo de desindustrialização nas últimas décadas está claro para todos. Há
tempos, vozes influentes no setor industrial e no meio político defendem a
criação de um projeto estratégico voltado ao segmento, sem sucesso. Chegou-se
ao ponto de extinguir o ministério da área, como ocorreu no governo passado.
Mas a conjuntura mudou. “Estamos vendo uma janela de oportunidades, que não
pode ser perdida”, afirma José Roberto Colnaghi,
presidente do Conselho da Asperbras, que atua em diversos setores da
indústria e do agronegócio. “Chegou a hora de o Brasil investir seriamente na
indústria”, afirma o empresário.
Colnaghi cita justamente a recriação
do Ministério do Desenvolvimento Indústria Comércio e Serviços (MDIC) e o
rearranjo nas cadeias globais de produção, que foram rompidas na pandemia de
Covid-19. Naquele momento, ficou claro para os principais detentores da riqueza
mundial que manter todas as fábricas do outro lado do mundo representava um
risco para o negócio. Desde então, tem ganhado peso na agenda norte-americana e
europeia um processo de aproximação – ou mesmo internalização – das cadeias
produtivas. Com sua localização estratégica, o Brasil desponta como uma opção e
pode atrair bons investimentos industriais.
José Roberto Colnaghi destaca
que o setor industrial chegou a representar cerca de 22% do Produto Interno Bruto
(PIB) nacional na década de 1980, e hoje detém uma fatia em torno de 12%, mesmo
percentual da década de 1950. Em comparação, entre 1980 e 2020, a indústria dos
Estados Unidos dobrou de tamanho. A do mundo ficou três vezes maior; a da China
cresceu 47 vezes.
“Os países que se tornaram
desenvolvidos conseguiram ascender com a força da indústria, por isso é preciso
recuperar o protagonismo da indústria de transformação”, diz José Roberto Colnaghi, ressaltando que o
Brasil viveu um processo de desindustrialização precoce, antes de se tornar uma
nação de renda alta. Hoje, o setor predominante na economia é o de serviços.
Nos Estados Unidos e na Europa, este segmento também responde pela maior parte
do PIB, mas esses países tornaram-se ricos antes do pêndulo econômico mudar da
indústria para os serviços.
No Brasil, porém, apesar da redução
do peso da indústria na economia brasileira, ela responde por 30% da
arrecadação de impostos. Também aporta 69% de todo investimento de pesquisa e
desenvolvimento, sendo a mais inovadora, e tende a oferecer empregos com
salários 10% acima da média dos demais segmentos.
Por isso, um dos pontos-chave,
que é uma condição estrutural, para a indústria retomar sua força é a
realização de uma Reforma Tributária que traga isonomia entre os setores e
simplifique a cobrança de impostos. A adoção de um IVA (Imposto sobre Valor
Agregado), que une os impostos federais, estadual e municipal (PIS, Cofins,
IPI, ICMS e ISS) num único tributo, de preferência com uma única alíquota,
seria um passo importante para dar racionalidade ao sistema.
“O Brasil necessita de um
projeto de reindustrialização que passe pela redução do custo-Brasil e pela
melhoria do ambiente de negócios no país. Daí a importância da reforma
tributária”, diz José Roberto Colnaghi. Segundo ele, uma política industrial
contemporânea passa necessariamente pela sustentabilidade. “Este é o ponto de
partida, o Brasil tem de apostar na descarbonização da economia, com redução da
emissão de gases de efeito estufa, do apoio a uma economia de baixo carbono,
privilegiando tecnologias limpas e dando início a um processo produtivo seguro
e sustentável” completa Colnaghi.
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