Em um ano, apenas 30 pessoas foram condenadas pelos atos antidemocráticos. Advogado criminalista avalia que mudança no comando da PGR deve acelerar inquérito

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Há um ano, milhares de pessoas 
contrárias à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) invadiram e depredaram prédios dos Três Poderes, em Brasília. O ato criminoso acabou com 2.170 presos nos dias 8 e 9 de janeiro de 2023. Deste total, 1.354 foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e se tornaram réus no Supremo Tribunal Federal (STF).

Até o momento, porém, apenas 30 pessoas foram julgadas e condenadas pela Suprema Corte. Outros 30 aguardam julgamento, em sessão virtual que termina no dia 5 de fevereiro.

Na análise do advogado criminalista Oberdan Costa, “o número de condenados representa uma fração desanimadora do universo de denunciados, mas isso não quer dizer que o Estado demorará para resolver a questão”.

Conforme o especialista, é possível identificar tendências e fatores que devem influenciar a velocidade do processo.

“Hoje, o processo penal dispõe de diversos institutos despenalizadores para desafogar o Judiciário das demandas que podem ser solucionadas por meio de justiça restaurativa, que são os mecanismos diversos das penas corporais”, explica.

 No caso do 8 de janeiro, Oberdan avalia que é provável que pelo menos mil réus façam jus à celebração de acordos de não persecução penal – em geral para acusados de participação não violenta nos atos. “Nessa leva, já será resolvida uma expressiva parcela dos casos”, diz o advogado.

Oberdan Costa

Mudança na PGR

Além disso, o criminalista pontua que a chegada de Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República deverá acelerar os processos. O procurador tomou posse em 18 de dezembro, em sucessão a Augusto Aras – que demonstrava alinhamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Gonet proferiu discurso indicativo de dedicação enérgica do Ministério Público na rápida responsabilização dos envolvidos, o que é mais um indicativo de que a conclusão dos julgamentos não deve se estender para além de 2024”, assinala Oberdan Costa.

Outra questão que pode acelerar os processos neste ano é o fato de que a primeira instância do julgamento dos atos antidemocráticos está ocorrendo no STF. “O Supremo é o ‘tribunal final’ do Judiciário brasileiro. Isso quer dizer que não caberá recurso para qualquer outro tribunal, expediente que tende a atrasar a conclusão dos processos penais. Como a discussão acaba numa instância só, haverá mais velocidade nos julgamentos” analisa o advogado.

Agora, além dos julgamentos dos indivíduos presos pela invasão às sedes dos Três Poderes, a expectativa é que os financiadores e organizadores do ato de 8 de janeiro sejam identificados e responsabilizados pelos crimes cometidos.