Advogado usa sua própria história para promover o entendimento sobre a dependência e apoiar diversas formas de abordagem terapêutica em novo livro
“Viver em um mundo de bonequinhos vicia”, escreve Paulo Leme Filho. Abstêmio há 27 anos, ele compara a relação das crianças e jovens com as redes sociais aos mecanismos da dependência que ele conhece bem e que geram uma “felicidade tóxica”.
“Pelo celular olho para o sucesso exibido a cada segundo – todos gozam a vida sem parar, e a felicidade é rápida e transbordante. Tudo leva a crer que likes geram a liberação da dopamina estabelecendo assim o mecanismo da dependência”, esclarece o autor de O Bonequinho, no capítulo “A nova doença”. O livro foi lançado no fim do ano pela Scortecci.
A questão, segundo Paulo Leme Filho, não é mais saber se a nova ordem causa ou não problemas – mas a extensão e a gravidade deles. E, para evidenciar os problemas de saúde mental que acometem crianças e jovens, Paulo traz alguns dados que fazem jus as campanhas de Janeiro Branco que alertam para a necessidade de conscientização e cuidado.
Estatística
Segundo o Ministério da Saúde, o número de suicídios de jovens cresceu no Brasil nos últimos anos. De 2016 para 2021, a taxa de mortalidade por cem mil pessoas relacionada a essa causa aumentou 45% na faixa de 10 a 14 anos e 49,3% na de 15 a 19 anos, contra 17,8% na população em geral.
No primeiro semestre do ano passado, a cidade de São Paulo contabilizou, em média, dez casos de autoagressão e de tentativa de suicídio entre crianças e jovens de até 19 anos.
Preocupação
Desde 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) incluiu o tema da saúde mental entre crianças e jovens no Tratado de Pediatria, principal publicação direcionada aos médicos que cuidam de pessoas até 18 anos em todo o país. No mesmo ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o instituto Gallup, publicou o relatório ‘Situação Mundial da Infância” elegendo a temática como prioridade de atuação.
O documento ressalta que a ‘geração Z’, os nascidos após 1995, conhecida como ‘nativos digitais’ são mais susceptíveis aos efeitos do estresse, apresentando maiores taxas de ansiedade, depressão, automutilação e suicídio. “O desenvolvimento desses jovens, com menos mecanismos para lidar com frustrações e adversidades (menor resiliência) e dificuldades em adiar o prazer (imediatismo) podem também ser fatores sociais que influenciam no desencadeamento de quadros mentais que têm contribuído com o aumento do suicídio”, informa o boletim.
Prevenção
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que, mesmo entre adolescentes e pré-adolescentes, o tempo de tela e videogame não ultrapasse as três horas diárias e que jamais se permita que eles “virem a madrugada” jogando ou navegando. A SBP tem um manual que detalha os limites de tempo de tela para cada faixa etária e dá outras orientações.
Sobre o autor
Paulo Leme Filho, 52 anos, é advogado (USP), com MBA em Gestão da Saúde (FGV-SP). Escreveu o primeiro livro com o pai, Paulo de Abreu Leme, em 2015. “A Doença do Alcoolismo” é um relato corajoso de dependentes conseguiram se recuperar, e decidiram dar sua contribuição para ampliar o debate e chamar a atenção para os perigos desta doença silenciosa, sorrateira, da qual nenhuma família pode se considerar imune. Ao livro seguiu-se outra iniciativa: o Movimento Vale a Pena, voltado para a orientação das famílias e que estimula a busca pela recuperação. “O Bonequinho” é o quinto livro de Leme Filho, o advogado que superou o vício, quebrou o preconceito e rompeu o silêncio para se tornar um ativista de causas sociais.
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